Não sou mais evangélico!

Não sou mais evangélico!


Por Ubirajara Quintino

Calma! Antes de fazer juízo precipitado de minha declaração, leia com atenção a argumentação que faço, para justificar tal afirmação.

Sou de uma geração em que nomes e marcas fizeram história. Quando garoto eu gostava de acompanhar minha mãe à “venda ou armazém” para fazer as compras do mês. Lembro-me muito bem que alguns produtos eram conhecidos pelas marcas, nomes fantasias, e não pelo produto em si. Exemplos: Quando se falava em leite condensado, pensava-se imediatamente no nome “Leite Moça”; quando se falava em água sanitária, pensava-se imediatamente em “Cândida”; quando se pensava em amido de milho, pensava-se imediatamente em “Maizena”; quando se falava em curativos práticos, pensava-se imediatamente em “Band-Aid”; quando se falava em refrigerante, pensava-se imediatamente em “Coca-Cola”. Embora esta seja uma visão tipicamente paulistana, da capital e arredores, mas com uma penetração em quase todo o território brasileiro.

Pode parecer algo sem sentido o que exponho, mas uso como exemplo estes produtos, porque os mesmo ficaram conhecidos não pelo seu conteúdo, mas pelos seus nomes. Ao simples pronunciar o nome de algum destes produtos, associava-se com qualidade e garantia de eficácia. Não restava nenhuma dúvida, se era “a tal marca”, podia-se comprar com total segurança, que a satisfação estava garantida.

Muitos destes produtos ao longo dos anos foram copiados e colocados à venda no mercado, alardeando-se que teriam a mesma qualidade dos produtos já famosos. Isto com o passar dos anos foi sendo questionado por muitos e muitas marcas genéricas sumiram do mercado, pois não tinham a qualidade dos produtos de “Marca.” Associo esta argumentação à nomenclatura que ao longo dos anos, acompanhou o povo de Deus.

Na minha infância, quando os meus pais tornaram-se servos de Deus, era comum os mesmos serem chamados de “Crentes”. O simples fato de alguém mencionar a palavra “crente”, isto era imediatamente associado a alguma pessoa que pertencia a uma denominação cristã. “Protestantes, Quebra-Santos, Crentes, Bíblias, Adeptos do livro da capa preta, eram nomes dados aos servos de Deus. Com o tempo esta nomenclatura, “Crente”, começou a ser questionada em face de alguns escândalos de comportamento, patrocinados por alguns membros das várias igrejas cristãs existentes na época. Muitos pastores começaram a dizer que crente até o diabo era, cria, mas não obedecia. Convencionou-se chamá-los de “evangélicos”. O termo evangélico demorou a ser aceito por todos, mas afinal pegou esta nova maneira de identificação dos membros de alguma denominação evangélica.

Para muitos, nos dias atuais, evangélico é todo aquele que não lê na cartilha da Igreja Católica Romana, mas que usa a Bíblia. Neste caldeirão entram seitas heréticas, denominações históricas, pentecostais, neo-pentecostais, livre pensadores, teólogos liberais e muitos outros! Chega-se mesmo ao absurdo, ser considerado “STATUS”, o fato de alguém ser “evangélico”. A mídia ajudou muito na propagação deste conceito, quando noticiava a conversão de artistas, atletas e gente de expressão do meio social, agora convertidos em “evangélicos”. Convertidos ao meio evangélico, mas não convertidos ao Senhor dos evangélicos! Ser evangélico virou charme, sinal de protesto e contradição, alternativa a uma sociedade corrompida nos seus valores. Mas no que se tornaram os assim chamados “Evangélicos”? Em primeiro lugar tornaram-se protagonistas de escândalos financeiros (Lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, quantias não declaradas em alfândega, uso do dinheiro doado por fiéis em beneficio próprio e etc.), protagonistas de contradições teológicas, (Neo-pentecostalismo, com o seu liberalismo teológico e interpretações absurdas da Bíblia) protagonistas de escândalos morais, (Pedofilia, adultérios, e etc.), protagonistas de escândalos políticos (Máfia das Sanguessugas), protagonistas de um sincretismo religioso condenável (Pr. André Valadão, cantando em conjunto com o Rosa de Sarom, conjunto declaradamente católico, uso de símbolos satânicos por parte dos jovens, na Marcha para Jesus deste ano, fato que foi motivo de chacota por parte do CQC, usos de objetos como toalhas, lenços, água, óleo, fitas, balas, lâmpadas e outros como ponto de contato com a divindade e etc.) protagonistas do abuso da mídia como meio para extorquir dinheiro dos fiéis, mediante profecias e promessas, (Os incautos e despreparados evangélicos de hoje são presas fáceis destes vendilhões da fé, por não base sólidas na palavra de Deus) e muitos outros fatos que poderiam aqui ser alistados como escândalos.

A marca “Evangélico”, antes respeitada, deteriorou-se por completo, hoje não correspondendo mais ao conteúdo do rótulo: È uma farsa! Seria a mesma coisa, que a fabricante do “Leite Moça”, envasar um outro produto de péssima qualidade na sua embalagem tradicional, fraudando os consumidores, que julgariam estar comprando a marca famosa. O mundo está comprando a marca “Evangélico”, sem saber que o conteúdo é produto de péssima qualidade.

Não quero mais ser chamado de evangélico! Não quero ser confundido com aqueles que tornaram o nome um símbolo de descrédito. Daqui para frente, me identificarei como PROTESTANTE REFORMADO, pois não faço parte deste “Saco de gatos” em que se transformou o meio evangélico. Não sou melhor do que ninguém, mas também não posso me amoldar à fôrma, que o meio evangélico está querendo impor aos evangélicos de uma forma em geral e muitos estão aceitando passivamente. Não!”Não sou mais evangélico! Sou protestante reformado com muito orgulho!


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Pr. Ubirajara Quintino é pastor titular da Igreja Evangélica Presbiteriana Ebenézer, na cidade Americana – SP

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