Não aguento mais ver tudo isso e ficar calado!!!

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Do outro lado do espelho: revisão do mito de Narciso

Recorrendo a um ensaio do classicista Carlos de Jesus, aqui deixamos uma revisão do mito de Narciso, fruto de investigação recente.


...…(julgando que) é um imortal[
……de aparência semelhante aos deuses.
um inquebrantável] coração ele tinha, odiado por todos,
(Narciso então) se apaixonou pela sua própria figura
…....] mas lamentava o prazer de um longo sonhou……
.......] chorou pela sua beleza
(e então) derramou (o seu sangue) sobre a terra
..….] suportar


Apesar de haver várias e diferentes versões do mito de Narciso, a mais comum deve ser aquela que nos é contada por Ovídio nas Metamorfoses:

“Narciso era filho de Cefiso, rei da Beócia, e da ninfa Leríope. Ao nascer, um oráculo predissera-lhe que viveria bem até ao momento em que se visse a ele próprio (v. 348). Ao atingir a juventude, a beleza do herói granjeava-lhe a paixão de um sem número de donzelas e mancebos, entre as quais a ninfa Eco que, impedida de estabelecer diálogo com alguém – pois que apenas repetia os finais do que ouvia – foi também por ele preterida, retirando-se para morrer solitária. Quantos havia desprezado, unidos pelo mesmo abandono, lhe lançaram uma maldição: que enfim pudesse amar alguém e não possuir o objecto do seu amor. Havia de ser por si próprio que nasceria a paixão, nesse coração onde paixão alguma havia já nascido. Um dia, cansado de uma caçada, acerca-se de um lago para matar a sede e, ao ver o seu reflexo, apaixona-se pela sua figura, não mais saindo desse local, até morrer. No fundo, o ser que amava estava mesmo ali, perto de si, do outro lado do espelho (a água cristalina), mas não podia de forma alguma atingi-lo. Pior do que a distância, para Narciso, era a proximidade intransponível daquele regato de água. Conta ainda Ovídio que, no momento em que as Dríades preparavam o seu funeral, em vez do corpo encontraram uma flor amarela, que em sua homenagem passou a chamar-se Narciso.”

Ora, acontece que há pouco tempo foi encontrado um papiro que fez rever esta e outras versões do mito, e que é aquela, em verso, que o leitor pode ler acima. Explica Carlos de Jesus:

“… até ao verso 11, nada de diferente nos é permitido ler. Temos a expressão da beleza do herói, semelhante na aparência aos próprios imortais o preterir de todos os pretendentes, motivo do ódio por parte destes e o enamoramento pela própria figura. O verso 12, contudo, merece já mais atenção. O sonho a que se alude pode muito bem ser entendido como a ilusão (da beleza) que foi toda a vida de Narciso, algo que agora se lamenta amargamente, contemplada que foi a verdade (a fealdade) nas águas do lago. Esta hipótese parece confirmar-se no verso 13: a beleza chorada seria, no fundo, uma beleza que não há, e que, em boa verdade, se percebe nunca ter existido de facto. Talvez consequência dessa amarga descoberta, o acto de dar a morte (verso 14) é extremamente violento e imediato. Se aceitarmos, como parece credível, que o sujeito do verso é o próprio Narciso, e que o objecto directo é o sangue, estamos então a falar de um suicídio consciente e cruel. As coordenadas do final do mito estão então (…) completamente subvertidas. Narciso ter-se-á suicidado ao perceber ser uma ilusão a beleza que sempre julgou possuir.
(…)
Daí que a morte não seja calma, fruto de um apagamento sucessivo das forças vitais pela inanição, antes dada pelo mais violento dos suicídios. Ela vem pelo sentimento de solidão, causado pelo afastamento do convívio social e amoroso, ciente de que só em si próprio existe o belo, um belo que torna indigna a aproximação de qualquer outra pessoa.
(…)
Caravaggio (…) pintou de forma admirável a expressão de desespero no rosto de Narciso, no momento em que se curva sobre as águas e vê o seu reflexo. E é este reflexo, precisamente, que se mostra revelador. Ele é um rosto feio, disforme, em nada similar ao do indivíduo que o contempla.
(…)
Como diria Platão, Narciso procurou a verdade onde não cabia alcançá-la; buscou a essência no mundo das aparências (simbolizado no lago), e não poderia de forma alguma contentar-se com o resultado, fosse ele belo ou feio. De outro modo, podem a disformidade e a fealdade ser, elas próprias, a essência desse Narciso homem, só percebidas quando se curvou sobre as águas, quando olhou para o fundo do lago, o fundo de si próprio, para aí ver a verdade
(…)
Belo ou feio – essencialmente belo ou essencialmente feio – qualquer que seja a leitura do mito ou a versão antiga por que optemos, Narciso traz-nos o mistério do outro lado do
Espelho (…) A avaliar pelo texto do novo papiro, do outro lado do espelho vem a causa imediata para a morte: a desilusão, seja pela realidade, seja pela ilusão de uma imagem enganadora.”

Carlos de Jesus termina o seu ensaio do seguinte modo:

“Do outro lado do espelho mora o medo, o terror que representa a descida ao fundo de si, o pavor de aí encontrar a mentira, ou a pior das verdades. Narciso tombou, resta saber o que viu ele do outro lado”.

O leitor que queira consultar o ensaio em causa, intitulado Narciso, o belo suicida: (Re)leituras do mito a partir de um novo papiro, deve dirigir-se aqui, páginas 117-127.

Livro: Jesus, C. M. A flauta e a lira: ensaios sobre a poesia grega e papirologia. Coimbra: Fluir Perene.

Imagem: Narciso de Caravaggio, Galeria nacional de Arte Antiga, Roma.
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Pode procurar que você não vai achar. Não importa aonde vá, estou absolutamente convencido de que há duas coisas que você nunca vai achar. Você pode correr o mundo e o tempo, e tenho certeza que jamais conseguirá achar alguém que não se envergonhe de algo em seu passado. Para qualquer lugar que você vá, lá estarão elas, as pessoas que gostariam de apagar um momento, uma fase, um ato, uma palavra, um mínimo pensamento. Todo mundo tenta disfarçar, e certamente há aqueles que conseguem viver longos períodos sem o tormento da lembrança. Mas mesmo estes, quando menos esperam são assombrados pela memória de um ato de covardia, um gesto de pura maldade, um desejo mórbido, um abuso calculado, enfim, algo que jamais deveriam ter feito, e que na verdade, gostariam de banir de suas histórias ou, pelo menos, de suas recordações.

Isso é uma péssima notícia para a humanidade, mas uma ótima notícia para você: você não está sozinho, você não está sozinha. Inclusive as pessoas que olham em sua direção com aquela empáfia moral e sugerem cinicamente que você é um ser humano de segunda ou terceira categoria, carregam uma página borrada em sua biografia, grampeada pela sua arrogância e selada pelo medo do escândalo, da rejeição e da condenação no tribunal onde a justiça jamais é vencida. Você não está sozinho. Você não está sozinha. Não importa o que tenha feito ou deixado de fazer, e do que se arrependa no seu passado, saiba que isso faz de você uma pessoa igual a todas as outras: a condição humana implica a necessidade da vergonha.


A segunda coisa que você nunca vai encontrar é um pecado original. Não tenha dúvidas, o mal que você fez ou deixou de fazer está presente em milhares e milhares de sagas pessoais. Não existe algo que você tenha feito ou deixado de fazer que faça de você uma pessoa singular no banco dos réus – ao seu lado estão incontáveis réus respondendo pelo mesmíssimo crime. Talvez você diga, “é verdade, todos têm do que se envergonhar, mas o que eu fiz não se compara ao que qualquer outra pessoa possa ter feito”. Engano seu. O que você fez ou deixou de fazer não apenas se compara, como também é replicado com absoluta exatidão na experiência de milhares e milhares de outras pessoas. Isso significa que você jamais está sozinho, jamais está sozinha, na fila da confissão.


Talvez por estas razões, a Bíblia Sagrada diz que devemos confessar nossas culpas uns aos outros: os humanos não nos irmanamos nas virtudes, mas na vergonha. Este é o caminho de saída do labirinto da culpa e da condenação: quando todos sussurrarmos uns aos outros “eu não te condeno”, ouviremos a sentença do Justo Juiz: “ninguém te condenou? Eu também não te condeno”.


É isso, ou o jogo bruto de sermos julgados com a medida com que julgamos. A justiça do único justo reveste os que têm do que se envergonhar quando os que têm do que se envergonhar desistem de ser justos.
publicado por Ed René Kivitz
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RELACIONAMENTOS



Como é difícil o relacionamento com o próximo, as vezes por motivos banais chegamos a situações que ate  nos envergonham, e quando nessa disputa de quem tem ou não razão ambas as partes saem feridas. E quando esgotam os argumentos de ambas as partes o que resta é a ofensa e as vezes até palavras de baixo calão. Deus vai nos cobrar  dos nossos relacionamentos com o próximo da mesma proporsão ao que temos com Ele e Ele compara o amor que dizemos ter para com Ele com o que temos para o proximo: 1 João 4:20-21
"Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.  Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão." Como é dificil nos relacionar-mos com o outro mais que com Deus, o fato é que com o o outro estamos próximo e quanto ao nosso relacionamemto com Deus, nós não o vemos e não temos a experiencia de poder argumentar, nos desculpar-mos e questiona-lo, temos a tua palavra que nos orienta e nos conduz a ter uma vida direcionada por ele, caso contrario se podessemos ve-lo e ouvii-lo com certeza nos defenderia-mos e nos colocaria na condição ate de vitima, mas ao contrario do proximo , nos relacionamos através da tua palavra..Que possamos suportar uns aos outros em amor, e so consequiremos através de um relacionamento profundo com sua palavra e seu Santo Espirito, pois só assim manifestaremos os seus frutos, que é amor, paz, longanimidade, benigdade, bondade, fé mansidão e principalmente dominio próprio, pois so assim  poderemos ser como paulo diz: "sede meus imitadores assim como eu sou de Cristo".

Nele e somente pela graça...
Gilson Elias 


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NÃO DESPERDIÇE SEU PÚLPITO
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Moralidade Mínima? Volta Pro Mundo!

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D.M.Lloyd-Jones

Texto
Qual é o lugar da oração em sua vida? Que proeminência tem ela em nossas vidas? É uma pergunta que eu dirijo a todos. É necessário que ela atinja tanto o homem que é bem versado nas Escrituras e que tem um bom conhecimento de doutrina e teologia, quanto a qualquer outro. Que lugar a oração ocupa em nossas vidas e quão essencial ela é para nós? Será que temos percebido que sem ela desfalecemos?
Nossa condição definitiva como cristãos é testada pelo caráter da nossa vida de oração. Isso é mais importante que o conhecimento e o entendimento. Não pensem que eu estou diminuindo a importância do conhecimento. Tenho passado a maior parte da minha vida tentando mostrar a importância de se ter um bom conhecimento e entendimento da verdade. Isso é de importância vital. Só há uma coisa que é mais importante: a oração. O teste definitivo da minha compreensão do ensino bíblico é a quantidade de tempo que eu gasto em oração. Como a teologia é, no final das contas, conhecimento de Deus, quanto mais teologia eu conheço, mais ela deveria me guiar na busca desse conhecimento. Não se trata de conhecer sobre Ele, mas de conhecê-lO. O objetivo inteiro da salvação é me trazer a um conhecimento de Deus. Eu posso aqui falar de uma maneira acadêmica sobre regeneração, mas o que é, afinal, a vida eterna? É que eles possam conhecer a Ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviaste. Se todo o meu conhecimento não me conduz à oração, certamente há algo de errado em algum lugar. Espera-se que ele faça exatamente isso. O valor do conhecimento é que ele me dá uma tal compreensão do valor da oração, que eu passo a dedicar tempo a ela e a me deleitar com ela. Se meu conhecimento não produzir esses resultados em minha vida, há algo de errado e espúrio nele, ou então devo estar lidando com este conhecimento de uma maneira completamente equivocada.
Fonte: Extraído do site www.reformationtheology.com
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EM SEU ROMANCE “A Cor Púrpura”, Alice Walker inclui estas palavras em uma carta escrita por sua personagem Celie:
Ela diz: Celie, diga a verdade, você alguma vez encontrou Deus na Igreja? Eu nunca. Eu só encontrei um bando de gente esperando-o aparecer. Se alguma vez eu senti Deus na igreja, foi o Deus que já tinha levado comigo. E eu acho que todo o pessoal também. Eles vão para a igreja para repartir Deus, não para achar Deus.
Alice Walker, citada por Vítor Westhelle em “O Deus escandaloso – o uso e abuso da cruz” – Editora Sinodal, p.146.
Uma Igreja saudável se constrói alicerçada na Bíblia, enquanto uma Igreja deficiente será marcada por seu afastamento das Escrituras (Ef.4.14).
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pés das chinesas


De tudo o que venho dizendo o que mais ofende aos meus irmãos evangélicos é o que digo com poesia. Quando moleque, ainda tão marcado pelo jeitão carioca, gostava de brincar com as pessoas que não entendiam a ironia. Fazia uma brincadeira, mas os sisudos entendiam tal e qual e se apavoravam, ou se irritavam e partiam logo para uma solução séria ou uma advertência. Percebia a surdez poética e divertia-me sadicamente com as ironias até o limite da paciência. Era o que na época chamávamos de “tirar uma casquinha”, uma molecagem.
A ironia é uma das tantas variações da mesma desistência, a da capacidade de expressar sentidos com as palavras ao pé-da-letra. Mas não uma desistência azeda, o que seria um silêncio lúgubre ou um queixume ranzinza, mas uma desistência bem humorada, leve e despretensiosa. A desistência dos poetas. Daqueles que preferem abrir mão do rigor da comunicação para não terem que ficar sem o prazer da comunhão. Já que nunca consigo traduzir tudo o que sinto e penso em palavras descritivas, divirto-me com as aproximações das metáforas. Modestas, mas cheias de beleza. Tão sugestivas, insinuantes e provocativas. Às vezes, os poetas exageram de tão felizes e se satisfazem apenas com o som das palavras, não dizem quase nada, mas tocam em quase tudo. Tão viçosas e livres dos caixotes semânticos.
Vejo Jesus nos evangelhos com esse comportamento poético. Divertindo-se um pouco com a dificuldade de ser compreendido. Por alguma razão que os evangelhos não explicam, mas que o nosso breve olhar suspeita, Simão é apelidado por Jesus de pedra, Pedro. Quando ele demonstra ter alcançado o que era dito, Jesus se diverte com o trocadilho: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja.” Mas quando se atrapalha com os sentidos, nosso falastrão experimenta o mesmo trocadilho às avessas: “Pedro, tu és para mim pedra de tropeço.” Quase vejo Jesus com um riso indisfarçável no cantinho da boca.
E que dizer das parábolas. Nem um pouco ingênuas. Insinuantes e provocativas. Apenas assimiladas pelos que tentassem ler as entrelinhas. Em um mundo em que a religião é instrumento de exclusão, mormente étnica, onde os samaritanos são odiados por sua atrevida proximidade religiosa e cultural, Jesus conta uma história com cara de ‘sem-querer’ para exemplificar o verdadeiro amor. É a parábola que aprendemos a chamar de O Bom Samaritano. Seu exemplo de desamor são os líderes da religião dos judeus, o levita e o sacerdote. Mas ocupa a cátedra da misericórdia um réprobo samaritano. Em outra, a que chamamos de O Fariseu e o Publicano, para mostrar o valor da oração, Jesus expõe ao ridículo a arrogância legalista dos fariseus e exalta os deploráveis publicanos, tão convictos de sua miséria quanto agraciados por Deus. Jesus fala uma linguagem apimentada.
Todos os escandalizados com o meu livro Salvos da Perfeição, sem exceção, tiveram dificuldades com a linguagem poética. Para eles mito é mentira. Ironia é profanação. Insinuação é atitude suspeita. Metáforas são antropomorfismos. Narrativa é linguagem escorregadia. Estética é leviandade. Poesia é heresia. E teologia é ler a Bíblia ao pé-da-letra. Assusto-me como eles reagem com zanga e agressividade. Lêem-me como investigadores policialescos. Seus esforços se parecem com uma tentativa de amordaçamento intelectual. Mas o que me assusta é que justamente na poesia é que se transformam em meus oponentes. Onde deveria haver deleite e deslumbramento, experiências com o belo, há apenas escrúpulo e estranhamento, experiências com o feio. Penso que não sabem lidar com a beleza e a descontração.
Pergunto-me por que nossos cultos não tem os cheiros nem os paladares tão criativamente espalhados por Deus para aventura de viver. Por que nossos templos são descoloridos e preferimos os cartazes de propaganda e as frases de admoestação aos quadros e esculturas dos artistas? Por que nossas músicas são, com freqüência, tão piegas e repletas de frases repetitivas e sem criatividade? Por que nossos sermões são mais bem considerados na medida de seus moralismos e advertências austeras? E nossas liturgias são tão previsíveis? Nossa indumentária, austera? Sugerem uma gente com medo das sensações, desconfiada de tudo o que não termine em conclusões de ordenança moral e afirmações peremptórias. Por que nossas festas são reduzidas à comilança? Sem dança e descontração, sentamo-nos ao redor de mesas para nos ocuparmos do único prazer que nos resta, comer.
Há muitas explicações possíveis. Em algum momento e por alguma razão que não me cabe agora, acatamos a idéia castradora de que nossos prazeres são desprazeres para Deus. Nosso mundo, concluímos, um lugar perigoso e disposto para nos prejudicar e condenar ao inferno eterno. Nele, temos que nos portar com a mesma tensão dos guardas noturnos em ruas perigosas. Descontrair é abrir brechas para entrada destrutiva de imaginários inimigos. O rigor paranóico enfeia nossos crentes.
Mas desconfio de uma razão anterior. Nossa leitura da Bíblia. Ela é bem mais que a leitura de um texto sagrado, ou um manual religioso. É um modo de ler a vida. Reduzimos o mundo ao que está escrito na Bíblia. Nada existe distintamente do que está previsto na revelação do texto sagrado. Daí o esforço hercúleo de fazer caber a nossa vida nas páginas canonizadas. Algo semelhante ao que faziam os chineses com os pés de suas mulheres. Uma antiga tradição chinesa dizia que as mulheres na China deviam ter pés pequenos, e para isso quando as mulheres eram crianças os seus dedos dos pés eram quebrados, pois assim as mulheres sem os pés cobertos não podiam percorrer grandes distâncias, não podendo fugir de casa. O reducionismo biblista dos evangélicos pratica culturalmente a mesma violência.
No entanto, ainda mais decisivo na leitura evangélica da Bíblia não é a pretensão de encaixar nela nossas vidas, mas de tratá-la com o mesmo rigor cientificista dos tratados acadêmicos. Desejando para os argumentos da nossa fé a mesma reverência dada às ciências naturais, tratamos de conferir a tudo o que dizemos a correspondência rigorosa e fiel com uma pretensa verdade. Sendo assim fomos treinados a ler tudo literalmente. Ficamos sem a ginga poética. Um crente fundamentalista lendo a poesia tão presente na Bíblia é como um lutador de Sumô tentando jogar capoeira.
Dar ao texto bíblico este estatuto de supertexto inibe qualquer relação mais espontânea e descontraída. Como devem ser a oração e a meditação. Uma Bíblia assim é uma castração existencial para os devotos. Mas nem creio que Deus compartilhe esta crença nem entendo que a Bíblia deva ser lida assim.
A Bíblia dos exegetas e seus métodos com pretensão científica é um corpo morto e inerte e sua exegese, uma exumação. A Bíblia dos que a lêem literalmente é semelhante à comida sem cheiro e cor e sua leitura é uma desleitura.
Prefiro ler a Bíblia como foi sugerido a João fazer com a revelação trazida pelo anjo. Parar de escrever e comer. A revelação nunca se dá plenamente na escrita. Ela precisa ser incorporada. Necessita transformar-se em algo mais que as palavras imediatas, ao pé-da-letra. Deve tornar-se a vida do João. Como o pão vira corpo vivo. Mas a descoberta atordoante de João nem foi o gigantesco anjo, nem os conteúdos da revelação, mas seu gosto agridoce. Doce na boca e amargo no estômago. Sua experiência mais apocalíptica foi a sápida. A revelação é cheia de sabor.
Esta Bíblia é a libertação da metáfora e da beleza. Para pessoas que além de crentes querem ser felizes e bonitas.

Extraido do blog do Elienao Cabral Jr
Exelente!!!
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Basta tecermos a definição de Pragmatismo segundo o dicionário Aurélio para que entendamos que pragmatismo aliado a religiosidade não gera nada que nos seja útil, quando temos em mente como útil, aquilo que defende a causa cristã. Segundo o Aurélio, pragmatismo pode ser conceituado como tese fundamental de que a verdade de uma doutrina consiste no fato de que ela seja útil e propicie alguma espécie de êxito ou satisfação. Logo, o pragmatismo religioso cristão estaria ligado à crença de que a doutrina cristã consiste na necessidade dela ser útil, propiciando êxito e satisfação aos seus ouvintes.
Que êxito? Que satisfação? Segundo os pensamentos vigentes de nossa sociedade, todas essas coisas estão ligadas às necessidades físicas, aliás, aos interesses do Ego, pois já não há ninguém que busque necessidades e sim interesses. Dentro da ótica pragmática, tudo aquilo que não for útil ou relevante, àquilo que desejo e anseio, deve ser descartado. Daí, surge a linha interpretativa da teologia da prosperidade, do evangelho positivista, da libertação, que descarta partes das escrituras que contradizem àquilo que quer crer e fica com aquilo que convém. Tal posicionamento é o mesmo utilizado pela Igreja do “Arco-Íris”, onde se prega a Bíblia descartando àquilo que é contrária a crença do grupo, neste caso específico, as advertências quanto à questão da homossexualidade. O mesmo ocorre com a Catedral Cristalina de Robert Schüller, onde se prega o evangelho positivista, excluindo-se tudo aquilo que não for positivo. Não preciso nem mencionar que a questão do pecado foi a primeira a ser descartada neste evangelho. O pragmatismo religioso está focado na necessidade do homem adequar a palavra de Deus ao egocentrismo humano. Nossa geração não quer ter como regra de fé um livro chamado de Bíblia, onde quanto mais contextualizados forem os versículos, maior será a importância do texto. Antes, prefere fazer desse livro um emaranhado de versículos sortidos, de modo a selecionar versículos que, isoladamente, deem preferência a uma interpretação positiva, mesmo que o contexto original, seja, completamente, diferente deste. Uma vez, tendo transformado a palavra de Deus num livro de provérbios chineses onde selecionamos o que nos for mais agradável, o que teremos como resultado final disto? A salvação do Homem ou aquilo que está escrito em Apocalipse 22.19 (“e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro.”)? E ainda dizem que ler não salva vidas!

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AMIGOS…



Adam Parfrey certa vez disse: “Nenhum indício melhor se pode ter a respeito de um homem do que a companhia que freqüenta: o que tem companheiros decentes e honestos adquire merecidamente, bom nome, porque é impossível que não tenha alguma semelhança com eles”.

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“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.” (Mt 5.17-20)
O texto acima faz parte do clássico Sermão da Montanha (ou Monte), onde a ética do Reino de Deus foi claramente exposta por Jesus.

Nos chama a atenção, o fato de que em meio ao seu enunciado ético, Jesus resolve abordar questões morais, culminando com a seguinte declaração: “se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus“. O que Jesus pretendia afirmar ou revelar com isto? Quais as implicações para nós, discípulos seus na atualidade? Para tais respostas, algumas considerações são importantes.

OS ESCRIBAS E FARISEUS

Devido ao papel central da Lei no Antigo Testamento, no período pós-exílico, os escribas (ou doutores e mestres da lei) surgiram como uma classe especial de especialistas e intérpretes (teólogos e exegetas). Em sua grande maioria eram fariseus. Mediante seus estudos, buscavam sempre adaptar e atualizar a Lei às novas demandas da vida social e religiosa.

Seus ensinamentos eram oriundos da mera “reprodução” das opiniões de mestres anteriores, apoiados na tradição e autoridade rabínica. Investigando a Lei, chegaram a descobrir nela 613 mandamentos divinos, onde 365 eram de proibição (negativos) e 248 de orientação (positivos). A obsessão pela guarda destes mandamentos deu origem ao legalismo e ao moralismo dos tempos de Jesus.

A formação dos escribas acontecia mediante intenso estudo da Lei. Recebiam, após completarem quarenta anos, uma ordenação que os habilitava para o exercício de seu magistério e para as funções judiciais.

Já os fariseus (“os separados”), grupo religioso ao qual boa parte dos escribas pertenciam, de origem incerta (provavelmente a expressão de uma rígida abstenção dos costumes pagãos do período de Esdras e Neemias), constituíam um segmento do judaísmo que se propunha em levar as observâncias religiosas até às últimas consequências e minúcias da vida. Na época de Jesus eram uns 6 mil. Eram também obsessivos em alcançar a perfeição espiritual e moral, afirmando ser a mesma possível nesta existência. Sua aparente virtude impressionava o povo, e eram o instrumento para sustentação de prestígio e influência. Escribas e fariseus foram grandes opositores do ministério e ensino de Jesus (Mt 7.29; Jo 8.1-11).

MORAL E ÉTICA

O não entendimento dos conceitos de “moral” (lt. mores) e “ética” (gr. ethos), tem sido motivo para a prática moralista de lideranças e igrejas cristãs na atualidade. No presente contexto, moral e ética falam de costumes.

Buscando um melhor entendimento sobre o tema, estudos recentes estabelecem uma distinção (tênue) entre moral e ética. Ives de La Taille (2002, p. 30 apud MORETTO, 2009, p. 56), faz a seguinte consideração:

“[...] entendo por moral tudo o que fazemos por dever (como em Kant), ou seja, submetendo-nos a uma norma de vivida como coação ou mandamento; e entendo por ética tudo o que fazemos por desejo ou por amor (como em Spinoza), ou seja, de forma espontânea, sem nenhuma coação outra que aquela da adaptação ao real.”
Esta definição nos permitel fazer uma comparação entre moral e ética:

Moral – Tem a ver com regras e normas
Ética – Tem a ver com princípios e valores

Moral – O que devemos fazer
Ética – Como devemos viver

Moral – Obedece as normas
Ética – Questiona as normas

Moral – Tem a ver com justiça
Ética – Tem a ver com generosidade

Moral – Se origina da Ética
Ética – É a origem da moral

Moral – Transfere responsabilidades
Ética – Assume responsabilidades

Moral - Postura necessária
Ética – Postura ideal

Moral – Imaturidade do ser humano em suas atitudes para com Deus, o próximo e consigo mesmo
Ética – Maturidade do ser humano em suas atitudes para com Deus, o próximo e consigo mesmo

Moral – Os Dez Mandamentos
Ética – O Sermão do Monte

Moral – Os escribas e fariseus
Ética – Jesus
Quando contemplamos estas diferenças, logo percebemos que “exceder a justiça dos escribas e fariseus” não deve ser compreendido em termos quantitativos, ou seja, Jesus não está ordenando uma vida meramente (e hipocritamente) pautada na observação de regras e normas (e quanto mais melhor). É exatamente desta maneira distorcida e equivocada, que se vivencia o Evangelho na grande maioria de nossas igrejas.

A orientação da vida dos crentes é geralmente fundamentada por regras e normas que fazem parte da tradição da igreja, tradição esta maior que a própria Escritura (Mt 15.1-20). A prova disto é o silêncio e os fracos argumentos das lideranças (católicas e evangélicas), diante de uma contestação bíblica e coerente.

Para exceder a justiça dos escribas e fariseus, a nossa justiça (moral) precisa estar, acima de tudo, fundamentada na generosidade (ética) do Reino. Não é da quantidade ou da rigidez das normas que Jesus fala, mas, da qualidade e da generosidade da ética.

Para sabermos se vivemos pela moral (justiça) ou pela ética (generosidade), algumas perguntas são necessárias:

- As disciplinas aplicadas aos membros e líderes, são geralmente fundamentadas na justiça da moral ou na generosidade da ética? Na quebra de normas ou de princípios?

- Os cultos de “doutrina” “instrução” ou “estudo bíblico”, trazem em sua maioria, conteúdos morais (normativos) ou éticos (sugestivos)?

Como bem coloca Moretto (Idem):

“Moral e Ética são temos relacionados a hábitos e costumes que estabelecem valores e princípios, os quais originam as regras da boa convivência social. Sua aplicação não é simples, se quisermos ser aos mesmo tempo justos e generosos“.
Jesus não veio acabar com a moral, mas veio combater o moralismo (ausência de generosidade na aplicação da justiça): “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). A grande questão não é se cumprimos ou exigimos a Lei, mas, como cumprimos e a exigimos.

Para saber se cumprimos, a fala de Jesus ao intérprete da lei é pertinente:

“E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.” (Lc 10.25-28)

Perceba que não foi numa lista de normas (moral) em que a resposta do intérprete da lei, confirmada por Jesus, se fundamentou, mas, em princípios (ética).

Concluo citando o professor Marcelo Gusson:

“[...] não podemos ter somente a ética porque muitas pessoas são imaturas e não conhecem a grandeza de seus ensinamentos. Portanto, precisamos também da moral para orientá-las no processo de amadurecimento“.

Na medida em que crescermos em maturidade cristã, teremos menos normas e mais princípios norteando a nossa existência e convivência. A nossa justiça excederá então a dos fariseus.

REFERÊNCIAS

MATEOS, J.; CAMACHO, F. Jesus e a sociedade de seu tempo. São Paulo: Paulinas, 1992.

MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejamento e educação para o desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard F.; REA, John. Wycliffe: Dicionário Bíblico. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
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“Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.” (Martinho Lutero)
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1- Prometa o que não pode cumprir. Isso é essencial! Promova campanhas onde a promessa de cura divina seja constante, prosperidade rápida e todo tipo de conquista material que você possa imaginar (de palito de fósforo a coberturas na orla de Ipanema).
2- Seja um piadista! As pessoas adoram uma boa piada. Ao invés de pregar a mensagem do evangelho e a seriedade da cruz, aproveite o tempo que você tem no púlpito para usar seu carisma e fazer as pessoas pensarem “Esse cara é muito legal!” e não “Meu Deus eu preciso mudar a minha vida.”
3- Seja legalista! Quanto mais proibições, mais o povo gosta. Proíba tudo, mas tudo mesmo. Futebol, vestimentas (se possível mande as pessoas vestirem escafandros ou burcas), música, bebida, comida, conversar com amigos não crentes, praia.
4- Lance uma série de livros com os títulos desse tipo: “Avacalhe com o diabo”, “destrua totalmente os demônios territoriais”, “ Diabo, tira a mão da minha benção” e tudo que estiver ligado ao capeta. Os crentes adoram isso. Combater o diabo é até mais divertido do que adorar a Deus.
5- Escale pregadores do tipo ex-mãe de santo, ex-homossexual, ex-traficante, ex-bruxo em dias especiais mesmo que eles não tenham nenhum conhecimento bíblico, o show já faz tudo valer a pena.
6- Contrate para eventos aqueles cantores e pregadores que cobram pela sua apresentação e nobre presença aos cultos. Pague o quanto for preciso, tire a primeira oferta da noite pra eles e lembre-se, o lema deles é “satisfação garantida e seu dinheiro no meu bolso”.
7- Seja completamente anti-ético. Traga políticos e celebridades para o púlpito e dê a eles lugares de honra na igreja. Se eles quiserem, deixem-nos falar dando uma saudação a igreja. Suporte as gafes e seja sempre sorridente e solícito, afinal isso pode lhe render uma boa oferta e bons acordos!
Seguindo esses 7 passos, pronto, sua igreja vai explodir de popularidade e será conhecida pelos seus grandes eventos e presenças mirabolantes, além, de suspeitas de gente famosa convertida! O único problema é que Deus não vai estar presente nesse negócio, Ah, mas isso é detalhe! VIVA A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E SEUS APÓSTOLOS!
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